Janela das três e vinte
(Júnior Ramalho)
A noite é tão fria, ouvi-se os latidos dos cachorros talvez clamando as ausência de um afago. Carros tão solitários vão e vem sem parar afinal a felicidade está logo ali e não podemos parar de procurá-la. Alguns mendigos da rua vasculham o lixo, quem sabe na esperança de achar alguma coisa que lhe sarem a eventual dor e descaso que sentem. Vêem tudo na televisão do mundo cão, tentando embargar no etílico mundo surreal sonhado por todos nós seres humanos que não passamos, ou talvez nunca passemos para uma melhor. Afinal a terra é o palco de infinitos céus e infernos que a nossa mente dirige, cria e destrói. Aeronaves cortam o céu talvez como forma de ironia, entre o que estar no céu, no topo, e os que estão embaixo, só não mais embaixo porque o asfalto sujo os impede. Bandidos caçadores procuram sua caça, aqueles seres ditos inferiores cuja função é somente de saciar vícios insaciáveis. Luzes acendem e apagam-se freneticamente a cada segundo num tempo que não pára, ou que parece não parar. A dor faz parar o tempo. O amor perfuma o tempo. A cidade dorme, a solidão acorda, nos corações sem vida, sem cheiro e sem sabor tenta exalar alguns versos. Versos que surgem como um sol que nasce. Que tem de nascer...